No universo do multiverso da dificuldade em aceitar a realidade tal e qual como ela é, irritam-me expressões como “pai de segunda viagem”. De repente, pai deixa de ser pai e passa a ser um tipo que quer fazer um percurso. Um que existe, mas vamos lá metê-lo em primeiro plano como se fosse uma experiência Odisseias. Não é. Nem é uma caminhada.
Parece uma daquelas coisas inventadas por um gajo qualquer que quis arranjar uma maneira de dizer que faz mais em casa do que realmente faz: é isso que “pai de segunda viagem” grita. Até porque quem o menciona para usufruto próprio, mete as palavras com aquele orgulho que não se deve subestimar. Como se quisesse dizer, a todo o momento, uma não me bastava, tinha de fazer duas. Viagens.
Se o pai é o tipo que quer, ou vai fazer o percurso, o filho/a é então esse percurso. Uma espécie de aventura como se fosse uma escalada com os amigos ou aquele fim de semana na neve anual. A infantilização da linguagem tem destas coisas, de repente um ser deixa de ser “o meu segundo” para a primazia estar na figura do pai, o “pai de segunda viagem”. Um detalhe, mas um que indirectamente explora aquela ideia de que afinal isto é sobre nós, não é sobre eles.
A desumanização do pai, da figura do pai, e da relação com o filho. Essa coisa da “viagem”, tirando do sítio um e outro. Feliz por ser pai, do primeiro, do segundo, agora quando me metem em viagens, torço o nariz. É feio, deselegante, infantil e uma fuga para a frente da real responsabilidade. Não nos metam em viagens, eufemismos, e formas de mascarar a presença do pai. Esta realidade não precisa disso.