- Lês livros e forças-te a ler artigos, fazes um esforço extra para seres melhor. Ouves com atenção o que os outros pais dizem sobre a cabeça dos seus miúdos bilingues e de como são uma esponja. Anotas a menção àquela altura em que dão um salto e vives isso como uma referência para te convenceres de que estás a fazer tudo bem;
- Não há fórmula mágica. Com o segundo filho afinas a coisa;
- Dizes às pessoas de que o inglês é muito melhor para aquelas coisas chatas como “no”, “enough” e “stop”, enfim, as cenas de merda. E é, mas é muito refrescante – anos mais tarde – quando mudas para português e se cria todo um novo leque para dizer barbaridades. Abre-se uma janela que nunca irás conseguir fechar;
- Mas há uns dias apercebi-me que “enough” é mesmo melhor. Porque dizer “chega” hoje em dia, na rua, não é saudável e pode estimular conversas anti-vax que não queres ter;
- Pensas que por haver duas línguas podes dizer mais palavrões e irão passar despercebidos. Até “for fuck sake” e “foda-se” entrarem no vocabulário do miúdo;
- Disse “foda-se” muitas vezes. Houve muitos dias com a paciência no limite. Hoje em dia nem “fogo” posso dizer porque ele pergunta porque é que estou a dizer “foda-se”;
- Acho giro quando ele diz “foda-se”. Sobretudo porque diz “fooooooda-se”, como eu, quando acontece merda;
- Espero que não o diga na escola;
- Especialistas dizem que é provável que ele precise de terapia da fala. Possível, mas primeiro vou metê-lo em várias atividades desportivas para ver se no futuro há possibilidade de retorno financeiro;
- Estou a brincar, foda-se;
- Agora a sério, reconheces que foste preguiçoso. Se calhar falar maioritariamente uma só língua em casa para facilitar as coisas não foi grande ideia;
- Nunca iria ser. Os outros pais com os outros miúdos bilingues fazem exatamente o contrário. Lembras-te sempre dos olhos radiantes deles quando falam nisso;
- Dizes a ti mesmo que a partir de agora vai ser melhor.